10 novembro 2012

Why don’t we really like change?

 Why don’t we really like change?

We each have an ego. 
And that busy ego plugs into, let’s call it, control systems.
Control systems compromise the free aspect of ourselves. 
They always want things to be the same way — in the words of the 1980′s band the Talking Heads sang — the same as it ever was.
This compromise with the control systems around us show up all over the place, whether in the dynamics of a political debate, or a personal situation that challenges a control system.
It is interesting to observe the places where these situations create a stop for us.


A stop to what? To prevent change from happening.

Psychologically-speaking, we vote every day

It took millions of years of a series of cascading accidents (genetic mutations) to even manifest we humans. Why would we want to change our collective, or personal habits?
One answer: our evolution has brought us to a juncture where we are individualized enough to truly, madly and deeply want change on the inside.
Yet, environmentally-speaking, we psychologically vote for the continuity of the way things are when we wake up every day, if you call that waking up.

Why you and I think we are different


Ways of collective being: French in Nice lining up for cigarettes after dinner in the Riviera's gourmet ghetto
I find that all human beings, wherever you go, are basically the same. There is a tendency for certain cultures to encourage the expression of spiritual ways of doing things, but basically we are the same.
I grok that America is going through quite profound changes.
Perhaps in Tibet or in India, things are happening on a different level, but people are the same, and acting out of the same stuff.

The mind-made date 2012 means nothing, spiritually-speaking


We are definitely reaching a point that is very different than it has been for the last thousands of years.
All cultures speak about the movement of consciousness.
We can’t really address that by measuring time, or by saying that during this very specific time, which is usually a self-invented concept, that such-and-such is going to happen because we’re reaching, say, the end of 2012, or the beginning of 2013.
I feel that it’s more the cycles of consciousness that we are beginning to understand now.
I don’t think it’s a negative, though it may seem that way to many people, especially scientists, and politicians, when they look at the enormity of all the challenges that we are actually facing. Some people feel, maybe rightly so, that we are coming to a point where we have to really change or things will change.

 

Why I truly, madly love change

There is nothing frightening about change, we should just embrace that, and be part of that change rather than worry about it. 
I feel there is too much talk in the media and between people, even spiritual people, that we are reaching a negative milestone in our development.
I find it rather the opposite, that we are reaching the beginning of something, rather than the end of something.

Tony Samara is tanned, rested and perhaps the hottest male spiritual teacher east of the Atlantic. 
He is also a friend of Soul’s Code, the author of three books and a trusted spiritual guide in the advaita tradition.
This is his tenth column for Soul’s Code  — experience him at the source at the non-profit destination, Tony Samara Foundation.

08 novembro 2012

"Devemos viver a vida e não andar com medo do que vai ser”

http://www.ionline.pt/artigos/mundo/tony-samara-devemos-viver-vida-nao-andar-medo-vai-ser

reportagem  que saiu no Jornal ionline
por Por Sara Sanz Pinto, publicado em 29 Ago 2012
clique no titulo para ir para a reportagem

Tony Samara. “Devemos viver a vida e não andar com medo do que vai ser”

Por Sara Sanz Pinto, publicado em 29 Ago 2012 - 14:36 | Actualizado há 32 semanas 8 horas
Definindo-se como um professor espiritual, Samara afirma que a sociedade precisa de pensar menos na economia e no orçamento para o próximo ano
  • Tony Samara

Autor dos livros “A Sabedoria do Xamã”, “Do coração”, “Different Yet the Same” e “Deeper Than Words”, Tony Samara orienta espiritualmente pessoas do mundo inteiro.

Os principais países onde actua são na Europa mas, através da internet, está a atrair uma audiência global, fazendo conferências online.
O i aproveitou uma das suas passagens por Portugal para saber o que temos de mudar para sermos mais felizes.

O que há de errado com as pessoas hoje em dia?
O grande problema com as pessoas, hoje em dia, é não estarem em contacto com o verdadeiro sistema de valores, que contém imensas referências ao que é realmente importante. Na estrutura da nossa sociedade, aquilo que as pessoas vêem como importante faz com que nos esqueçamos do nosso valor interior. Em Portugal, talvez menos do que em outros países, algumas das tradições têm sido preservadas e é possível que o sistema de valores esteja um pouco mais presente. Mas do que vejo em Lisboa, tal como nas grandes cidades, as pessoas estão tão absorvidas com o exterior que se esquecem do interior, em termos psicológicos e emocionais, no sentido de regressar a um centro onde há paz e tranquilidade. Estas sensações influenciam a nossa forma de fazer as coisas, as nossas acções na vida, e sinto que já não estamos mais em contacto com isso. E assim surgem os problemas no mundo. As pessoas jovens estão perdidas e já não sabem o que fazer, perderam a noção de respeito e o contacto com as tradições, que podiam ser repressoras, mas pelo menos permitiam que as pessoas soubessem onde era o seu lugar. Hoje com a televisão, internet, redes sociais, família, expectativas na educação, são criadas tantas exigências às crianças que elas acabam por ser autodestrutivas ou por criar sentimentos de revolta contra a sociedade. Penso que este é o grande problema, termos perdido a noção do que é realmente importante, e isso criou todos os problemas económicos, culturais e sociais com que vivemos actualmente.
Nasceu em Inglaterra?
Sim, nasci em Inglaterra, mas saí de lá quando tinha dois anos. A minha família era diplomata e acabei por crescer em vários países, essencialmente no Médio Oriente, o que acabou por se tornar uma grande influência na minha forma de entender as coisas. Onde cresci existiam muitas culturas, todas elas muito diferentes – muçulmanos, cristãos, gregos ortodoxos, judeus –, e isso ajudou-me a abrir os olhos. Todas as tradições espirituais, místicas e religiosas faziam com que, na altura – não hoje em dia –, as pessoas interagissem entre si e havia uma sensação de entusiasmo. Não era o entusiasmo de quem vai de férias para um sítio como o mar Vermelho, no Egipto, e fica no resort, igual a tantos outros, mas era uma sensação de qualquer coisa realmente interessante que me ajudou durante a infância a questionar o que é ou não real ou porque é que as pessoas são diferentes.

E depois?
Voltei para Inglaterra, durante a minha adolescência e depois vivi em vários países, como a Austrália ou a Nova Zelândia. Estudei biologia marinha na universidade. Não sou cientista, mas sou muito científico no sentido em que gosto muito de saber como é que as coisas funcionam. Mas também sou um idealista e, basicamente, não acabei a minha licenciatura porque fui convidado para ir para a floresta da Amazónia fazer um projecto de conservação que mudou muito a minha vida.

Quanto tempo lá esteve?
Estive na América do Sul cinco anos. Andei entre a Amazónia, os Andes e as Caraíbas, a trabalhar. Compreendi que nós, enquanto seres humanos, mesmo se formos muito primitivos/nativos, temos uma qualidade especial, e descobri que essa tal qualidade estava acima dos estudos na universidade ou do tipo de inteligência a que estava habituado. Estudei muito e li centenas e centenas de livros sobre filosofia, psicologia e medicina. Mas ao ver os nativos viverem de forma sábia mas sem terem, ao mesmo tempo, acesso a esse conhecimento, fascinou-me. Por isso fiquei muito interessado em antropologia e no estudo de culturas nativas e depois fui introduzido ao xamanismo.

E como foi essa experiência?
Desafiadora, porque foi tudo muito diferente do que alguma vez estava à espera. É difícil explicar. Mesmo tendo crescido no Médio Oriente, tudo era diferente, a forma como as pessoas caminhavam, falavam, interagiam umas com as outras, o que era importante e o que não era, era tudo muito radical. Não vivi apenas em algumas pequenas aldeias na América do Sul, estive mesmo no meio da selva, nos Andes, muito longe da civilização. E foi também um desafio porque me obrigou verdadeiramente a olhar para a espiritualidade. Antes disso interessava-me apenas por ela, mas não me questionava tanto acerca das tradições espirituais em termos dogmáticos e se têm valor no sentido em que, se és budista, não questionas – sentas-te e meditas e tentas libertar-te das tuas ligações, não questionas nada e só praticas. E eu comecei a questionar tudo, era um mundo completamente diferente, tudo, até o meu sistema de crenças central. Porque me sinto triste quando isto acontece ou porque me sinto feliz por causa daquilo? Uma busca interna profunda, não devido aos nativos, mas porque estava num processo em que tinha vinte e poucos anos e queria encontrar o significado de tudo. Apesar de na altura andar a estudar e a praticar meditação há algum tempo, essa experiência foi como um empurrão para olhar ainda mais fundo. E diria que mudou a minha vida, sabe? Fez-me chegar à conclusão de que não estou aqui apenas para estudar, mas também para, de alguma forma, transmitir o conhecimento que adquiri ao crescer no meio de diferentes culturas, ao estar entre povos nativos e também ao criar a minha própria maneira de viver.

Regressou mais vezes à América do Sul? Manteve contacto com essas pessoas?
Regressei poucas vezes. Não vejo os nativos como melhores, piores ou especiais. Vejo-os como quaisquer outras pessoas no mundo, mas preservaram as tradições de que falava e que, de alguma forma, desapareceram no Ocidente – a ligação com o mundo natural. Das vezes que lá voltei, levei inclusive comigo algumas pessoas do Ocidente e senti que isso era errado, tendo em conta os danos que provoca aos nativos; eles não se adaptaram ao Ocidente da mesma forma que eu me adaptei à sua cultura. Os elementos da civilização ocidental provocavam muitos danos, não por minha causa, mas pelas coisas que estavam à minha volta – os nativos queriam coisas materiais, dinheiro, objectos que viam como exóticos… Por isso parei de lá ir porque quero que eles evoluam num caminho diferente e não com pessoas a tirarem-lhes fotografias.

E foi depois disto que decidiu ser professor espiritual?
Sim. Pensei: porque não explicar as coisas como eu aprendi durante muitos anos, a crescer entre diversas culturas e também a viver com nativos, não apenas na América do Sul, mas também no Pacífico – Havai e Taiti. Aprendi a essência e a qualidade que precisam de chegar à cultura ocidental, e para isso não é preciso levar as pessoas para o passado, mas estar presente na realidade daqui. Por vezes é uma inspiração ir a esses sítios para vermos as diferenças, mas não creio que isso por si só tenha respondido às questões que, na altura, achava serem importantes e que se prendem com como lidar com a realidade aqui, em vez de ir à procura de outra. O que fazer com as situações em que estamos envolvidos? As relações com os nossos amigos ou companheiros? Com o trabalho, com a sociedade, connosco próprios? Está tudo aqui, não precisamos de continuar a ir para um sítio qualquer, como muitas pessoas ocidentais fazem. Foram para a Índia, para o Tibete, agora é para o Peru e depois para outro lado qualquer. Por isso comecei a trabalhar com as pessoas duma forma muito mística. Ando por aí e dou as palestras e os workshops normais, mas depois existe um grupo, com quem trabalho, que está realmente empenhado em transformar todos esses aspectos que levam o seu tempo, entende? É um processo interior de transformação profundo e que demora a ser posto em prática.

Compreendo.
Portugal é Portugal e as pessoas não têm de aprender a ser norueguesas. Têm de conhecer os valores daqui que são inerentes à sua cultura. Não estou a dizer que misturar culturas é errado, mas penso que apenas nos misturamos quando interiorizamos a importância daquilo que temos. E levamos o que é importante das outras culturas mas, se nos esquecemos da nossa, apenas vamos fingir que estamos a usar outras coisas. Por exemplo, vejo as pessoas irem para a Índia e tornarem-se indianos na forma de vestir, na forma de pensar, mas depois nunca lá chegam porque não respeitaram o seu sistema de valores interno. E o exterior não interessa, mas sim o interior. O interior é não só uma qualquer parte mística de nós próprios, mas a nossa família, a nossa cultura, a nossa história, quem somos e isso depende de muitos, muitos factores. É importante descobrir e interiorizar isso tudo, para que seja real. Não estou a dizer para as pessoas serem nacionalistas, mas para se aperceberem de que antigamente, aqui em Portugal, existiam pessoas místicas e há uma cultura de cura e outras, mas que caíram em esquecimento. Mas assim que abrimos esse sistema de valores, tomamos consciência de que essa cultura ainda está presente em nós. Estive no Peru a ensinar isto às pessoas, por exemplo. O país foi dominado pela cultura ocidental, pelos espanhóis e pelo seu sistema cultural, porque de outra forma teriam sido mortos. Há 500 anos, se não acreditássemos naquilo que o nosso superior nos dizia, éramos perseguidos e mortos ou transformados em escravos, e por isso as pessoas tinham medo, e esse medo ainda lá está actualmente, no Peru. Ainda agem como há 500 anos e têm medo de recordar o que está no fundo do seu código genético. É estranho aparecer um gringo para nos explicar o nosso sistema de valores. Mas todas as pessoas podem lembrar-se, se tiverem as ferramentas certas. Não leiam livros de história, ou não tentem ser alguma coisa que acham que são, mas regressem àquilo que são de facto. E isso é mais profundo do que encontrar um outro sistema, outra forma, ou reinventarmo-nos a nós mesmos. É regressar ao conhecimento genético que lá está.

Acredita que os sonhos dos nossos antepassados estão no nosso corpo, na nossa carga genética?
Tenho a certeza. Os cientistas, hoje em dia, ainda sabem muito pouco sobre a nossa genética. Há muita informação na estrutura do DNA e isso está tudo armazenado, com num disco rígido. E se acedermos a essas informações, o que é difícil porque exige que cheguemos a um tipo de consciência, podemos descobrir muitas coisas sobre o mundo e sobre nós mesmos. Tu és a genética da tua mãe, do teu pai e de muitas gerações para trás. Há quem fale em sete gerações, mas penso que são mais, e essa composição genética tem os mesmos impulsos, os mesmos desejos, os mesmos medos, a mesma dor, a mesma alegria, o mesmo entusiasmo… A um certo nível, quando consegues descobrir isto, e é disto que falo quando me refiro às tradições de Portugal, podemos estudar as qualidades que os nossos antepassados viam como muito importantes em vez de irmos para outra cultura, com a justificação de que a nossa cultura já não tem isso e, por conseguinte, temos de ir para o Tibete ou para a Índia e descobrir lá esse passado. Todos temos qualidades e não sabemos o que está escondido lá no fundo. Para mim, ao fim e ao cabo, essas qualidades são as mesmas e essa é a ligação entre todas as pessoas. Essa é a essência da religião, do misticismo e da filosofia: há uma sabedoria no fundo de todos nós e, assim que começamos a atravessar essas camadas, acedemos a essa sabedoria, apesar de a vermos como única nos diferentes sítios e expressa de diversas formas, através da música, da arte, da ciência. Actualmente, tudo se resume a SMS, ao Facebook. É tão superficial... Não porque as pessoas assim o querem, mas porque não sabem ser outra coisa qualquer, porque é assim que são socializados em criança. São ensinadas como sobreviver em sociedade e, inconscientemente, os pais transmitem-lhes sinais de como fazer as coisas, como pensar, sentir, agir, não porque as queiram reprimir mas porque é isso que sabem.

Foi difícil para a sua família?
Para a minha foi muito difícil, porque eles eram inteligentes, livres e com dinheiro. Tinham tudo. Eram bem sucedidos aos olhos da sociedade e não entendiam porque é que eu não os estava a seguir. Penso que foi difícil para eles entenderem que eu não queria apenas aquelas coisas, que são as condições de sobrevivência básicas, a comida, o conforto… Os seres humanos querem mais do que isso e esse “mais” não é abordado na nossa sociedade. Tive todas essas coisas e vi que não eram suficientes. Fizeram-me feliz, foram importantes, mas não eram tudo, e eu andava à procura do “mais” que eles não tiveram tempo para encontrar. Se tivesse nascido noutro país e passasse fome, iria à procura de comida e faria as coisas normais que as pessoas comuns fazem para sobreviver mas, quando já se tem tudo isto, o tempo é dedicado a outras coisas.

E tem filhos? Como lidam com a sua profissão?
Tenho quatro. É difícil colocar isto em palavras porque, na verdade, as crianças são a parte central do meu trabalho. Acredito que, se trabalharmos com crianças, podemos mudar muito mais o mundo do que se trabalharmos com adultos. Para mim é importante criar limites verdadeiros para as crianças sem que sejam negativos, sem lhes incutirem o medo de que não vão ser bem-sucedidos ou servirem para os socializar. Têm de vir do sistema verdadeiro de valores, a que chamo amor. Tudo tem de ir dar ao amor, e a única forma de isso acontecer é se os pais se trabalharem a eles mesmos. Geralmente, quando tens filhos, fazes coisas de uma forma completamente diferente da que pensas estar a fazer. Ter filhos é uma coisa e pensar em ter filhos é outra: tens ideais. Mas assim que temos filhos tendemos a regredir – não eu, mas vi muitas pessoas à minha volta regressarem a formas antigas de fazer as coisas em vez de seguir ideais. Às vezes, as pessoas não vivem os seus sonhos com as crianças. Ter filhos é um processo intenso. É preciso dar-lhes a oportunidade de expressar a sua inteligência criativa, em vez de os reprimir ou socializar, mas dentro de um limite real onde se consiga conter e expressar esse conhecimento de uma forma verdadeira. Não acredito que seja bom deixarmos as crianças fazerem o que querem – isso é mais a forma hippie de fazer as coisas, que está bem, mas se fizermos isso as crianças vão ficar confusas e inseguras. Nas sociedades nativas existem limites claros que permitem que essa criatividade vá para algum lado – não é preciso dizer “tens de ser isto ou aquilo”, mas dizer que elas têm de usar a sua energia para encontrarem aquilo que querem fazer. Por isso, se a criança é um artista, não podemos dizer “esquece, é melhor seres médico”.

Por exemplo, para mim que estudei na Escola Alemã, penso que os alemães tratam as crianças de uma forma muito diferente, como miniadultos, dão-lhes muita liberdade mas também as responsabilizam muito mais do que em Portugal.
Exactamente. E é disso que estou a falar. Dos limites onde o respeito pela pessoa, pelas suas capacidades e pelo seu centro é mais importante do que a projecção do pequeno bebé inseguro, vestido com roupas bonitas, sem se ver que é importante – e os alemães são muito bons nisso – nutrir as qualidades da criança para que se mantenham por toda a vida.

Melhor que os latinos.
Sim. Estive uns tempos em Itália e é um caos. O homem nunca abandona a unidade familiar e a mãe é sempre muito importante para ele. Quando um homem italiano se separa da namorada vai logo ter com a mãe, que cozinha para ele, lhe engoma a roupa,… Isto aos 40 anos! Em psicologia, isto é altamente disfuncional e é aqui que nasce o problema, num sentido mais vasto, de termos crianças e não as deixarmos ser elas próprias. Interferimos demasiado. Vejo isso a brincar com crianças. As pessoas pegam no brinquedo e brincam, mas eu defendo que é melhor agarrar no brinquedo e brincar com a criança por um minuto e depois deixá-la descobrir sozinha como brincar com o mesmo. Estar presente na brincadeira em vez de assumir o controlo do jogo. Os erros dos pais cometidos durante os três primeiros anos ficam dentro da criança para sempre. É durante os três primeiros anos de vida que é formado o núcleo central da personalidade, a parte inconsciente da personalidade, e para mim é uma pena não haver conhecimento para lidar com isto de uma forma profissional, como um livro de conhecimento da consciência. E as pessoas nativas sabem melhor como cuidar das suas crianças, porque têm tempo e vêem o valor, e assim as crianças crescem muito fortes, independentes e seguras para criarem novas ideias, novas formas, novas filosofias. As crianças, hoje em dia, podem tornar-se cientistas que vão para além da zona de conforto. E isto é parte do meu trabalho espiritual, descobrir a força interior – com a qual hoje em dia não vejo muitas pessoas –, a sabedoria interior que poderá ser transmitida de uma forma prática, no trabalho, nas relações com o namorado e com os amigos, na família… Qual é o verdadeiro valor da relação com a família? É passarem o Natal juntos, comprarem juntos os presentes e oferecer cartões uns aos outros e fazer o processo racional normal? Ou é dizermos aos nossos familiares que temos um amor verdadeiro e profundo por eles e querermos mostrar-lhes isso para que seja sempre lembrado?

Falava há pouco de força interior e disse que não a via em muitas pessoas. Acha que muita gente se casa porque é o próximo passo a dar, não deixa o emprego que detesta porque tem medo e tem filhos por receio de envelhecer sozinha?
Sim, e é uma pena que assim seja, porque a vida passa-lhes ao lado sem que se apercebam da verdadeira alegria que é possível quando temos filhos ou fazemos um trabalho que nos entusiasma muito. E não estou a dizer a todas as pessoas para deixarem o seu trabalho e irem à procura do que quer que seja no campo, mas para se ouvirem a elas próprias: “qual é o meu sonho?”, “o que é que quero?” – não os desejos em termos de necessidades, mas o que querem realmente. E quando estamos conscientes de alguma coisa, pensando ou escrevendo sobre ela, de alguma forma já depositámos sobre a mesma emoções que a tornam, pelo menos, mais acessível e mais visível. Se não sabemos uma coisa, não a vemos. Está lá o nosso inconsciente, não reconhecemos o sinal que nos diz “eu realmente gosto de negócios, mas tenho medo de deixar o meu emprego porque, hoje em dia, o mundo dos negócios está muito mal”. Mas e se tivermos um talento que mais ninguém tem em gestão? E podemos fazer algo único, tornar-nos muito bem-sucedidos. Como o Facebook, por exemplo. Foi uma ideia dos tempos da universidade e hoje em dia é uma coisa enorme. Mas a ideia por trás de tudo isto foi brutal. E muitas pessoas têm esse potencial criativo; o mundo iria por um rumo muito melhor se as pessoas olhassem para estes sonhos pessoais e criassem uma sociedade em que esses sonhos fossem palpáveis, e não apenas ideias que as pessoas têm mas nunca olham para elas, excepto quando já são muito velhas para mudar. O problema é que as pessoas não vivem os próprios sonhos por causa de muitas coisas, especialmente quando têm filhos e responsabilidades. Dizem “eu não vou viver os meus sonhos porque o meu filho precisa de uma boa educação”, mas essa é a pior coisa que se pode fazer, porque ao fazê-lo não estão a reprimir esse sonho em concreto, mas o sonho interior de serem livres. E quando as pessoas começam a reprimir os seus sonhos a um nível superficial, depois começam a fazer o mesmo nos relacionamentos, com a família… E isso também é prejudicial para a sociedade, porque esses sonhos não se materializam. Por exemplo, as pessoas respeitam o Nelson Mandela porque ele tinha um sonho e sempre acreditou nele, fossem quais fossem as circunstâncias, e concretizou-o. E essas pessoas que realizam os seus sonhos são uma inspiração e temo-las em elevada consideração, mas não acreditamos que esse sonho seja possível para nós próprios. E podemos fazer isto com pequenas coisas, não precisamos de ser o Nelson Mandela, podemos ser um empresário que inventa uma coisa pequena, mas que é útil para todas as pessoas. Mas muita gente não dá este passo. A sociedade precisa de deixar de sentir o medo da economia e do orçamento para o próximo ano e prestar mais atenção às crianças e aos jovens, aos sonhos, à educação, e trabalhar para sustentar esse potencial.

Que solução propõe?
O sistema de valores actual tem de ser alterado e orientado para as pessoas, fortalecendo a sua independência e a sua criatividade. Não é só uma estrutura social que sustém toda a gente, mas é mais a estrutura social que cria os incentivos para as pessoas avançaram e darem muito de si próprias para essa mesma estrutura. Actualmente temos uma estrutura social democrática que sustenta a ideia de que, se apoiarmos todas as pessoas, o que é uma ideia boa, de alguma forma as pessoas vão trabalhar. Mas houve um abuso desse conceito, porque as pessoas encontraram uma forma fácil de se safarem e não chegam a conhecer o seu potencial. Querem ter apoio a todos os níveis, do ponto de vista material, da sociedade, que os reconheçam de alguma forma. É mais fácil para as pessoas aceitarem um trabalho que lhes paga três vezes mais do que aceitarem o sonho profundo de uma forma válida para fazerem o que querem. Olhe para o que as pessoas fazem a elas mesmas: não vivem os seus sonhos, não cuidam do estado da sua saúde e da sua cabeça e abdicam da vida. Só se vive uma vez. E devemos viver a vida, e não andar com medo daquilo que vai ser. Pode ser difícil no início, mas temos de fazer o que sentimos ser o mais acertado. E se formos contra os nossos sentimentos, vamos contra tudo.

Mas então a maioria das pessoas têm esses sentimentos bloqueados, já nem sentem…
Exactamente. E essa é uma das coisas que também ensino. Como podemos descobrir o nosso sistema de valores. Como sentirmos o nosso sistema de valores. Ele está bloqueado desde a infância. Temos de tirar do nosso sistema emocional todas as emoções erradas ou que foram reprimidas e transformadas na nossa forma de ver as coisas. Muitos destes sentimentos são negativos, por exemplo, a vitimização: “faço estas coisas porque me sinto inseguro ou sem força para ver o que há realmente dentro de mim”, “estou num relacionamento com alguém porque prefiro que essa pessoa me faça sentir coisas em vez de sentir o que sinto” ou “estou feliz numa relação porque assim não estou sozinho”.